Impasse entre áreas do governo paralisa medida provisória da venda direta de etanol

 quinta, 12 de dezembro 2019

Impasse entre áreas do governo paralisa medida provisória da venda direta de etanol

Um impasse sobre a tributação do mercado de etanol vem impedindo que o governo federal apresente uma solução definitiva para modificar a legislação e autorizar a venda direta do combustível pelos produtores, para os postos.

A discussão é sobre a monofasia tributária – a transferência de impostos federais, cobrados na etapa de distribuição do etanol hidratado, para a fase de produção, em que já incidem tributos atualmente.

A epbr apurou com lideranças políticas e integrantes do governo que uma medida provisória instituindo a monofasia tributária para o etanol está parada no Ministério da Economia desde maio deste ano.

O texto foi elaborado pela equipe técnica da Receita Federal, mas não saiu da Secretaria Executiva da pasta, responsável por fazer uma avaliação jurídica e encaminhá-la à Secretaria de Governo.

Um dos motivos apontados por fontes envolvidas no assunto é a divergência com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A pasta não apoia a proposta, por entender que a cobrança de impostos irá onerar demasiadamente o produtor de cana-de-açúcar e etanol.

“Nem todo mundo vai querer vender diretamente ao posto de gasolina porque às vezes não é rentável. A usina paga hoje 14 centavos, enquanto a distribuidora paga 11 centavos. Nesses casos, a usina terá que pagar os 25 centavos…”, explicou um integrante da área técnica da Agricultura.

“Quem disse que o distribuidor vai querer cobrir esse valor? Os produtores não são contra a venda direta, mas são contra a monofasia”, completa.

Eneva
Integrantes da Agricultura defendem a a coexistência dos dois modelos de tributação, com aplicação da monofasia apenas para as usinas que optarem pela venda direta. A Receita Federal, por sua vez, entende que não é possível aplicar dois modelos tributários simultaneamente na cadeia do etanol.

Em reunião, em novembro, sobre a venda direta, representantes da Receita Federal informaram os parlamentares que a proposta é “operacionalmente inviável”. Sem um acordo no governo, os deputados da Comissão de Minas e Energia (CME) aprovaram o projeto de decreto legislativo que exclui da regulação feita pela ANP o veto à venda direta, mas não tem força para mudar a tributação.

O Ministério da Agricultura, inclusive, não assinou o trabalho realizado pela área técnica da Fazenda sobre o tema. O documento conclui que a liberação da venda direta de etanol por produtores para postos revendedores é positiva e recomenda que o governo faça alterações legislativas para adaptar a tributação.

ANP estuda solução regulatória
Diante do impasse, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) estuda uma solução regulatória. Foi formalizado esta semana o início da revisão da resolução 43/2009 – o tema já é discutido desde o ano passado –, o que vai incluir a possibilidade de criação de um agente autorizado para comercialização restrita de etanol hidratado combustível.

O novo agente teria “a obrigação de recolhimento de tributos federais, atualmente realizada pelas distribuidoras de combustíveis líquidos, incidentes sobre a venda de etanol hidratado”, explicou a agência. A revisão está em estudo pela Superintendência de Distribuição e Logística (SDL).

A venda direta é um tema prioritário do governo federal. O Conselho Nacional de Político Energética (CNPE) determinou que o Ministério da Economia avalie a implementação de monofasia tributária, por meio de um grupo de trabalho, mas o prazo desse grupo encerrou em 1º de dezembro, até o momento, sem uma conclusão.

Procurada, a Receita Federal informou que “não comenta políticas públicas em processo de elaboração”.

Fonte: EPBR